EU FICAREI...
Eu sempre ficarei...
Mesmo depois que todos se forem...
E todos vão.
Depois que a luz apaga...
Depois que todos dormem... Os pais ficam. Eu fico.
Às vezes não fico em presença física. Mas eu sempre fico.
Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica. Fica neles.
Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se ele revidou. Se a mãe lembrou de dar o remédio...
Eu fico.
Fico entalado no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria.
Fico espremido no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou.
Fico com o resto da comida do moleque, pra não perder mais tempo cozinhando.
É quando a gente fica, que nasce o Pai. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.
Sou eu quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora. Quando as certezas se desfazem. Eu fico.
Eu sou a teimosia do amor, que insiste em permanecer e ocupar todos os cantos.
Sou, muitas vezes, o caminho de cura. Do crescimento.
Que baita responsa! E é muito bom!
Nada jamais será mais transformador do que amar um filho.
E nada jamais será mais fortalecedor que ser amado por um pai e uma mãe.
É porque eu fico, que o meu filho vai.
E no filho que vai, sempre fica um pouco dos pais:
Em um jeito peculiar de dobrar as roupas;
Na mania de empilhar a louça só do lado esquerdo da pia;
No hábito de sempre avisar que está entrando no banho ou quando vai cagar;
Na compaixão pelos outros;
No olhar sensível;
Na força pra lutar;
...
No coração do filho, a gente fica.