Planeja muito e realiza pouco...

Não precisei casar e ter o meu próprio lar para ler o saquinho do arroz e ver quanto tempo ele deve ficar na panela. Comi muito arroz duro fingindo estar “al dente”, muito arroz empapado dizendo que “foi de propósito”. Por isso, desde pequeno leio as coisas. Me viro. Por mais que minha mãe, dona Ciça, tenha me mimado. E duvido que essa nova geração tenha lido o verso de um saco de arroz... Na nossa panela esteve por todos esses anos a prova de que esta nova galerinha, que se acha gente, é uma geração que compartilha sem ler, defende sem conhecer, idolatra sem porquê. É da geração que sabe o que fazer, mas erra por preguiça de ler o manual de instruções ou simplesmente não faz.
Sabem como tornar o mundo mais justo, o planeta mais sustentável, as mulheres mais representativas, o corpo mais saudável. Fazem cada vez menos política na vida (e mais no Facebook), lotam a internet de selfies em academias e esquecem de comentar que na última festa todos os nossos amigos tomaram bala para curtir mais a noite. Ao contrário do que defendem compartilhando o post da cerveja artesanal do momento (só agora descobriram a cerveja de trigo), bebem mais e bebem pior.
Entendem que as bicicletas podem salvar o mundo da poluição e a nossa rotina do estresse. Mas vão de carro ao trabalho porque sua, porque chove, porque sim. Vimos todos os vídeos que mostram que os fast-foods acabam com a nossa saúde – dizem até que tem minhoca na receita de uns. E mesmo assim lotam as filas do drive-thrru porque têm preguiça de ir até a esquina comprar pão. É a geração que tem preguiça até de tirar a margarina da geladeira.
Preferem escrever no computador, mesmo com a letra que lembra a velha Olivetti, porque aqui é fácil de apagar. É uma geração que erra sem medo porque conta com a tecla apagar, com o botão excluir. Até os games, hoje em dia têm "vidas infinitas"... Nem números contadinhos de "continues" tem. Postar é tão fácil (e apagar também) que opinamos sobre tudo sem o peso de gastar papel, borracha, tinta ou credibilidade.
São aqueles que acham que empreender é simples, que todo mundo pode viver do que ama fazer. Acreditam que o sucesso é fruto das idéias, não do suor. São craques em planejamento Canvas e medíocres em perder uma noite de sono trabalhando para realizar.
Acreditam piamente na co-criação, no crowdfunding e no CouchSurfing. Sabem que existe gente bem intencionada querendo ajudá-los a crescer no mundo todo, mas ignoram os conselhos dos pais, fecham a janela do carro na cara do mendigo e nunca oferecem o sofá que compraram pela internet para os filhos dos próprios amigos pularem.
Nos dedicam a escrever declarações de amor públicas para amigos no seu aniversário que nem lembrariam não fosse o aviso da rede social. Não se telefonam mais, não se vêem mais, não se abraçam mais. Não conhecem mais a casa um do outro, o colo um do outro, têm vergonha de chorar.
É a geração que se mostra feliz no Instagram e soma pageviews em sites sobre as frustrações e expectativas de não saberem lidar com o tempo, de não terem certeza sobre nada. São aqueles que escondem os aplicativos de meditação numa pasta do celular porque o chefe quer mesmo é saber de produtividade.
São de uma geração cheia de ideais e de ideias que vai deixar para o mundo o plano perfeito de como ele deve funcionar. Mas não terão feito muita coisa porque estavam com fome e não sabiam como fazer arroz.

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