R.I.P. ?

Um aluno veio me pedir a opinião sobre a morte do Chorão.
Eu prontamente, por se tratar de um educador, estimulador e tal, respondi que achava que o Chorão tinha "dado muito mole", pois se envolveu com drogas, que não precisava disso, que tinha uma vida boa, tinha sucesso, reconhecimento, dinheiro, fãs, um trabalho solidificado e todas aquelas coisas politicamente corretas que se esperam de um educador. E confesso, que realmente tinha essa opinião.



Ora, eu aqui na labuta, o dia todo, cada vez mais longe dos palcos, enveredando por um lado que nunca pensei caminhar, acordando cedo, dormindo 3hs por dia, e me vem um cara com fama, sucesso, grana e se mata? Por overdose? "Deu mole".



Isso me levou a outro ponto: o que leva uma pessoa assim a se matar? Pensei em Kurt, Amy, em jovens de minha geração que interromperam suas vidas aparentemente boas e produtivas, por consumo de drogas, álcool, medicamentos ou simplesmente com o velho e eficiente tiro na cabeça.



Li em algum ligar, e não posso comprovar a veracidade dos fatos, que Chorão passava por um momento delicado. Poucos shows, banda instável, fim do casamento, distanciamento do filho, e culminou com um possível esquecimento do Charlie Brown no próximo Rock in Rio. Todos reais motivos pra desencadear um estado depressivo grave.


Mais um ponto que me peguei pensando: será que ele pediu ajuda? Ou se não pediu, haviam amigos que poderiam ter detectado isso e tentado ajudar de fato? Não apenas com conselhos vazios do tipo: "procura um médico, cara", mas com ações incisivas, como ajuda moral, ajuda profissional, enfim. Ou mais: será que ele possa ter comentado e simplesmente foi ignorado do tipo "você é forte e vai sair dessa sozinho".


"Não foi forte", e a droga, vendo por esse ponto, foi mera coadjuvante. Talvez ele já estivesse morto, há tempos, e não foi ouvido. Implorou por socorro, e não foi levado a sério. Colocar a culpa na droga é fácil, para se isentar de responsabilidades como amizade e atenção.


Hoje, peço desculpas para Chorão. Você não "deu mole", cara. Você apenas foi (mais) uma vítima desse mundo de falsidade e hipocrisia que nos rodeia. Apenas não deu mais pra você. Cansou e resolveu acabar com isso. Você não foi fraco, apenas passou do seu limite.


Hoje em dia minha resposta sobre o suicídio de Chorão é: ele ultrapassou seu limite e teve acesso a meios fatais. Ninguém impediu e ele o fez.


Espero que todo esse lance de que o suicida sofra em outro plano seja realmente mentira. E que, se Deus realmente existe, seja misericordioso e realmente conheça seu rebanho e saiba o limite de cada um e acolha os que não conseguiram suportar essa coisa estranha que é a vida. E que agora ele tenha alcançado a paz que tanto precisava.

R.I.P. Chorão, Kurt, Amy... E o Keith Richards continua.
=P

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